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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Viagem no tempo


Dez horas, Arganil. Vim com a minha filha à terra onde, há vinte e seis anos, iniciei a carreira de professor. Reconheço, aqui e ali, lugares, pessoas (o farmacêutico, o construtor civil, o jogador de futebol). Arrepia-me o facto singelo de os meus alunos dessa época serem, hoje, maduros cidadãos com quarenta e dois anos.
Toda a manhã parece um poema burilado por um Deus dado a ironias. Por exemplo: meu pai também me trouxe e veio buscar, um quarto de século antes desta manhã, correndo comigo os mesmos cruzamentos, a mesma toponímia. O meu pai morreu. A minha filha viaja agora comigo no lugar que era o meu; e eu viajo no lugar dessa ausência sempre tão triste.
Partilho com a minha filha esta poesia do tempo. Ela acusa-me de ser depressivo.
Tem muita razão. Mas pouco há a fazer quanto a isso. Escrevo e vivo assim desde que me conheço (e nem tenho a certeza absoluta de me conhecer bem).

Arganil, 05 de Abril de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (foto de Arganil) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.eb1-arganil.rcts.pt.]

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