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Número de Ondas

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril, apesar de tudo

1. Mostrei ontem aos meus alunos o filme Capitães de Abril, de Maria de Medeiros. Comovi-me pela enésima vez. Sofri, a espaços, o desconsolo que algumas personagens de Orwell manifestam em Animal Farm, quando vêem perverter-se o sonho limpo do início. Mas também sorri ao ver meninos e meninas do 8.º ano aprendendo, com atenção e interesse, a sua História.
2. Um velho (parecido com uma personagem do filme) assiste, ao meu lado, à transmissão da celebração do 38.º aniversário da revolução. A televisão mostra os rostos soturnos (vejo, aqui e ali, caras familiares, mas envelhecidas), na Assembleia da República, suportando a retórica oficial. Alguns engravatados trazem o símbolo político-floral à lapela. O velho a meu lado indigna-se e desabafa: "Ó pá, tira daí o cravo que ele não é teu!"
3. No final da cerimónia, já depois do hino nacional, um grupo de alentejanos canta "Grândola Vila Morena". E eu senti-me como Simão (de Amor de Perdição) relendo as suas próprias cartas de amor, devolvidas por Teresa, quando ambos estão à beira do derradeiro suspiro e nenhuma esperança se consente já.

Ribeira de Pena, 25 de Abril de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

2 comentários:

Anónimo disse...

Quanta razão tem esse velho!
Há muitos cravos aos quais lhe ficam mal as lapelas ... parecem apêndices disfigurados, autênticas verrugas.
Sempre Abril!

Abraço

Manuel Vilares

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Gosto do termo - tão rigoroso - que utilizaste, caro Manuel Vilares: "verrugas". É isso mesmo. Abraço. JJC