Nas cidades do sul
há violência e há excesso,
de semente.
Estalam os rios e foge a água.
O corpo, encortiçado, racha.
Lendas vêm de há séculos assoreando
as margens.
E quando à boca de um poço vamos
provar o nosso eco,
águas puras irrompem,
noutra língua.
É tudo aqui certo e profundo, mas uma imagem em particular me fere, tamanha é a violência da beleza e da inteligência ditas: "à boca de um poço vamos / provar o nosso eco, / [e] águas puras irrompem / noutra língua." Creio que há aqui um tratado essencial sobre a memória, a escrita, a leitura, a vida. Todos partilhamos o mesmo poço, sim - mas para nele reconhecermos, afinal, a individualidade única que cada pessoa (cada um de nós) é. E a expressão do que individualmente somos é, embora originária desse veio comum, algo sempre novo, matéria consubstancial a cada eu.
Isto é: na literatura, nos amores, na vida - é tudo sempre a mesma coisa, e nunca é (mas nunca é) a mesma coisa.
Ao poço circunstancial de Luiza Neto Jorge fui-vos eu agora buscar este meu eco, senhores.
Ribeira de Pena, 01 de Maio de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.poetasportuguesesseculoxx.wikispaces.com.]
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