Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Neo-realismo (im)puro e duro

Docemente cai a tarde, noite a haver, enquanto Portugal regressa a casa (do trabalho, dos gabinetes de emprego, da preguiça voluntária ou sem querer). O país vai jantar no segredo doméstico, queixar-se da vida, suspirar preocupações por facturas de casa-gás-luz-água-fruta. Talvez também atordoar-se com a televisão, ver o mundo da janela alugada, dormir (antes, ou depois, ou em vez do rápido amor).
Ainda vejo transeuntes trocarem múrmuros votos de boas tardes, boas noites. Na padaria, ao pé da minha mesa, lado direito do balcão, uma mulher com – deixai-me adivinhar – cinquenta anos, de velho vestido azul e chinelos pretos, compra dois pães: procura, sob o paciente olhar da empregada, as moedinhas que hão-de perfazer a conta pobre. Recebe, depois, um cêntimo de troco. Sorriem ambas, vendedora e adquirente. Sorrio eu igualmente, mas não alegre.

Coimbra, 24 de Maio de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.jotaedu.blogspot.com.]

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