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Número de Ondas

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Escola Pública


Incomoda-me a frequência com que, nos jornais e - sobretudo - na net, se multiplicam os comentários maldosos, malcriados e injustos contra os professores. O governo do PS encarregou-se de fomentar um desprestígio para a classe docente que levará anos a reparar (se a situação for ainda reparável). A cada notícia sobre negociações entre sindicatos e governo, milhares de ignorantes destilam ódio, ressentimento, fúria nazi: os professores são, nas palavras de gente com mais bílis que gramática, "maus, privilegiados, incompetentes, egoístas".
A este panorama muito triste soma-se uma (ainda pouco visível) guerra entre "contratados" e "efectivos". Esquecidos de que os mais velhos estiveram sempre na primeira linha da luta (contra uma avaliação iníqua e burocrática; contra o cariz precário da situação dos mais novos), jovens professores acham que o problema está no pessoal "instalado", "dos quadros". Já vi alguns contratados a afirmar que a avaliação é, afinal, coisa positiva porque permite ver quem são "os melhores" (uma destas opiniões apareceu escrita num fórum social, em código vagamente aparentado com o Português). Isto é, a desejada selva (laboriosamente engendrada por Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos) começa a produzir os seus efeitos entre os docentes.
Talvez valesse a pena aos sindicatos reforçar a aposta nesta explicação ao país profundo do que está em causa: que a Escola Pública sofre actualmente um ataque terrível (diminuição de recursos; degradação dos recursos); que a morte (rápida ou lenta) da Escola Pública é um retrocesso na qualidade da nossa democracia; que a desconsideração dos educadores é uma das faces mais visíveis das agressões perpetradas sobre a nossa Escola. "Nossa", verdadeiramente "nossa", porque pública.
Em última análise, para os professores, trabalhar no ensino público ou no ensino privado vem a dar no mesmo. Tal como sucede com médicos, pilotos, motoristas, advogados, recepcionistas, informáticos, enfermeiros, canalizadores, etc.
Mas "isto" não é já igual se considerarmos o interesse do cidadão comum. O serviço público é de todos. O serviço privado é de quem o puder pagar.

Coimbra, 10 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.naoinercial.wordpress.com.]

1 comentário:

Paulo Pinto disse...

Embora as posições sustentadas ao longo dos anos pela Fenprof (crítica sistemática, e pouco selectiva, a todas as reformas e propostas da tutela) e o comportamento menos correcto de uma parte dos nossos pares também tenham contribuído para essa sanha contra nós, acho que há duas razões principais (não digo isto professoralmente, mas só por ordenação de ideias):
1ª A inveja tacanha e a maledicência que são, infelizmente, um constituinte de primeira ordem do carácter lusitano (e contribuem para o espírito depressivo do nosso povo e para o baixo grau de percepção de felicidade pessoal) - os professores têm muitas férias, ganham muito bem, etc., e até chumbaram o meu filho quando ele merecia passar, e (pior ainda) deixaram passar o filho da minha vizinha que não merecia mais do que o meu!
2ª O aproveitamento infame que Sócrates, Lurdes, Valter e outros fizeram dessa triste tendência para conquistar o grosso da opinião pública e permitir-se atacar a nossa classe, não só já para terminar com situações abusivas mas para rebaixar a classe inteira (nos direitos, salários, progressões, administração das escolas, etc.) e, por extensão, os funcionários públicos em geral.

Quanto ao que se pode fazer para dar melhor imagem de nós, não sei. Lembra-te do que disse o JH Saraiva: só se vê o que se conhece. E essa gente não conhece.