sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O Mundo Em Que Vivi
Li, pela segunda vez, O Mundo Em Que Vivi, de Ilse Losa. Boa parte do encanto e interesse do livro é de cariz ético. Reconhecemo-nos, como no Diário de Anne Frank, no discurso do espanto, da indignação, do desespero, da denúncia.
Mas há mais. Há esse feitiço literário de certas narrativas que nos transportam aos lugares (lugares de geografia e lugares de sentido) e nos aumentam, sendo vistos, a capacidade de ver.
Eu sou agora, talvez, outro leitor, diferente já do mais jovem Joaquim Jorge que pela primeira vez lera o livro. Vivi mais, aprendi mais, cresci em mundo e em memória. Mas o livro recuperou, da minha pessoa antiga, a mesma ingenuidade e a mesma disponibilidade para o espanto que outrora fui.
Isto é: por um lado, o livro é diferente porque o leitor é já outro; por outro, o leitor permanece igual (em pureza e em deslumbramento) porque o livro, no caroço fundamental de si, igualmente permanece-resiste-sobrevive aos relógios. Algo como um aconchego sobrenatural de perenidade.
Afinal, há nos livros - em certos livros - essa possibilidade maravilhosa de nos libertarmos da velhice, desse pó anquilosante que escorre dos calendários para as nossas pobres veias.
Ler, portanto. Ler sempre. Espécie de provisória negação, em nós, da mortalidade.
Arco de Baúlhe, 07 de Dezembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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1 comentário:
apesar de ainda nao o ter lido todo estou a gostar imenso ate agora
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