terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Da Ira
Falo com ex-alunos e eles, quase indiferentes, dizem-me que acabaram os estudos e estão desempregados.
Falo com pais de antigos e actuais alunos: desempregados.
Falo com familiares e com conhecidos: desempregados, desempregados.
Funcionários do Bingo pedem, na televisão, que alguém lhes devolva o trabalho.
Os dias estão agrestes. Um medo secreto mina-me os ossos e a esperança. A crise rouba a cor aos olhos dos transeuntes e há, em vez de sorrisos, uma espécie de brutidade zigomática.
Talvez por ilusão triste, parece-me que o país se arrasta. Homens e mulheres vigiam-se, em meu redor, como lobos impacientes.
Em certa medida, o meu quotidiano desliza para páginas de Steinbeck afinal contemporâneo. Portugal - Vinhas da Ira.
Ribeira de Pena, 04 de Janeiro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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4 comentários:
...contemporâneo como a ganância dos líderes que infelizmente temos e como as politicas que infelizmente sofremos. É urgente repensar as defenições básicas da distribuição de poder. Como é possível que decidam, em causa própria, administradores sobre vencimentos, prémios e mordomias escandalosas em empresas que vão à falência ou que acumulam prejuizos? Como é possivel que deputados definam seus vencimentos e reformas quando quem os elege e suporta não possa definir os seus?
Como é possivel que ministros decidam subsidios da UE (cujo destino se ignora) em troca do fecho de fábricas e sistemas de produção, só porque sim?
Como é possível tudo isto sem revolta popular? É possível mas não devia ser!!!
Ainda bem que há (sempre) alguém que diz Não! Pelo menos isso: que não se coíbe de dizer Não!
Abraço.
JJC
Muitas vezes as dificuldades, quando são colectivas, trazem ao de cima energias e vontades positivas longamente adormecidas. Atenuam o materialismo que impera quando tudo vai de vento em popa. Serão mesmo lobos impacientes ou serão coelhos assustados à tua volta? Todos temos um lobo, e um coelho, e sei lá que bicharada mais, dentro de nós. O maior motivo de esperança que podemos encontrar talvez esteja aí: que as dificuldades façam emergir o castor ou o golfinho que nos habitam.
Gosto da imagem do castor que, Deus queira, haverá (?) no interior de cada português (incluindo os, como eu, pessimistas viscerais).
Abraço.
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