quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Taking Woodstock
Continuo a alimentar-me de livros e filmes em hipermercados. Por escandalosos noventa e nove cêntimos, trouxe da Worten (de Coimbra) um filme de Ang Lee, Taking Woodstock (2009). Soube, pelas informações da capa, que se baseia num romance de Eliot Tiber. Visionei-o na noite de 25 de Janeiro, noite fora, e adormeci com a ideia muito formosa de que todos temos um (pelo menos, um ) 1969 assim nas nossas vidas.
Ao contrário do que seria expectável, a história assenta pouco no fenómeno estritamente musical que ocorreu então. Apresenta-nos a biografia até aí medíocre de um casal de imigrantes e, em especial, de seu filho, jovem adulto, decorador de interiores, discretamente homossexual, a viver na periferia de Nova Iorque.
O casal tem um motel que quase ninguém frequenta e está afogado em dívidas à banca. O rapaz tem sonhos que, por amor aos pais, adia ou reprime, numa resignação silenciosa e aqui e ali divertida…
Nos jornais, surge a notícia de um festival de música ao ar livre, anunciado para localidade vizinha daquela onde está o motel. A câmara anfitriã do festival recusa, contudo, a realização do evento, devido à repugnância que a previsível visita de milhares de hippies desperta na população rural. O jovem decorador de interiores vê nessa circunstância a possibilidade de inscrever a terra onde vive no mapa dos grandes acontecimentos. Contacta a organização, oferecendo-lhes aquela alternativa.
De um dia para o outro, a localidade é invadida por muitos milhares de pessoas, sobretudo jovens, que encontram naquele espaço silvestre uma hipótese de paraíso provisório, livre de todas as convenções e de todas as regras. Como flores de S. Francisco, cresce por aqueles campos a fruta do Amor. Pelo meio, há a poesia, o grito contra a guerra do Vietnam, as canções, a arte - e o acesso a variadíssimas drogas, que contribuem para uma ilusão de céu que invade as ruas, as casas e as almas da humanidade aí presente.
O filme edifica uma espécie de mágica presentificação daquele tempo e daquele lugar. As roupas, o parque automóvel, a música, a linguagem – eis 1969 regressado e tão verosímil!
Diz-se, como piada, que quem esteve em Woodstock não pode dizer como foi porque não se lembra. Mas Ang Lee (à boleia, decerto, de Eliot Tiber) diz-nos – pelo menos – como pode ter sido. Como deve ter sido.
O Diabo inventou o caos. Mas há homens, iluminados por Deus, que vão inventando a narrativa.
Arco de Baúlhe, 26 de Janeiro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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2 comentários:
Tenho a banda sonora e continuo à espera de um prometido dvd do concerto ... acredito que ninguém se lembre ... tempos loucos esses. Apesar de ser de 67, ainda tentei encontrar alguma nolstalgia nas versões portuguesas de Vilar de Mouros, das quais ainda me lembro
Abraço!
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