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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

SPORTING CLUBE DE NÓS


Raciocinar sobre o futebol obriga a – perdoai o paradoxo – que nos deixemos tomar pela emoção e pelo sentimento. Dito isto, deixai que desabafe: o meu Sporting é grande e o treinador é demasiado pequeno para a dimensão da nau verde-branca.
Eu, por exemplo, conduzo uma carrinha de marca Nissan Primera. A minha competência está ao nível (utilitário) desse veículo. Talvez gostasse de conduzir um Ferrari ou um Porsche, mas provavelmente essas máquinas ficariam em perigo e os transeuntes também. Está a perceber, Paulo Sérgio? De cada um segundo as suas capacidades, poderia dizer o velho Marx…
O treinador Paulo Sérgio, se se apanha a ganhar, pede a Deus que o jogo acabe rapidamente. Já me envergonhei, perante portistas e benfiquistas, com substituições borradinhas de medo – o Saleiro e o Zapater, coitados, entram muitas vezes em jogo durante o período de descontos, apenas para roubar uns segundos a poderosos oponentes como a Académica ou o Leiria.
Quando, em determinada altura da partida, um treinador retira um avançado e opta por um defesa (sai Liedson ou Postiga, entra Nuno André Coelho), que sinal dá aos seus jogadores e, sobretudo, ao adversário?
O defeito de ler mal o jogo é já suficientemente mau. Mas igualmente na preparação do plantel se nota bem a qualidade (ou falta dela) do treinador. O Sporting já tinha Pedro Mendes; foi ainda buscar Maniche, André Santos e Zapater. Defender, defender, defender! Aliás, com engenharia digna de estudo, este mister já conseguiu jogar com todos simultaneamente – e mesmo assim a equipa sofre golos.
Ao contrário de Paulo Bento que foi conseguindo, sem ovos de grande qualidade, confeccionar dignas omoletes, Paulo Sérgio tem bons laterais (melhores, por exemplo, do que os do F.C. Porto), tem um grande “trinco” (André Santos), mantendo-se na equipa os médios e avançados que pontificavam nas épocas anteriores.
Explicar o insucesso desportivo com Bettencourt e Costinha ou Couceiro é injusto e errado. O Sporting não tem um treinador à altura da equipa e do clube, e isso nota-se muito. Paulo Sérgio conseguiu matar Saleiro, vulgarizar Liedson, amedrontar equipa em geral, moralizar adversários. Sei que não é por mal, obviamente; mas é isso que, na verdade, acontece.
Paulo Sérgio tem melhor gramática que Jorge Jesus e melhores modos que Villas-Boas. Mas falta-lhe o espírito positivo (ofensivo) do técnico das águias e a ambição do jovem treinador dos portistas. Reconheço no provisório timoneiro do Sporting a vontade de fazer bem e a convicção com que assume as suas f(r)ases. Lá discurso tem ele! (Se é assim a perder, como seria a ganhar…)
Mas – reitero – deveria ser dada a Paulo Sérgio uma tarefa à dimensão de Paulo Sérgio: Naval, Paços de Ferreira, Nacional, talvez (até) o Braga. Mais, não. É natural que não se queira demitir, mas isso resolve-se com indemnização (mais uma).
Mediania por mediania, ao menos que venha um sportinguista, como – por exemplo – Manuel Fernandes, esse tão mal tratado leão. Quando o Vitória de Setúbal eliminou o Sporting,na Taça, a sensação que tive, ao longo de noventa minutos, foi a de que os treinadores estavam trocados.
Bem sei: nós nunca poderemos ser o “maior” clube português; esse clube é fatalmente, pelo menos por enquanto, o Benfica. Mas poderemos ser o “melhor” (ou ser um dos melhores), n’est-ce pas?
Amen.


PS: Já agora: gostava que Rogério Alves fosse presidente do Sporting.

Arco de Baúlhe, 20 de Janeiro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.sportinguistascentenario.com]

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