Li hoje um pequeno romance (104 páginas) intitulado Precaução Inútil, de Paul Scarron, escrito na segunda metade do século XVII (Lisboa, Ed. Teorema, 2004, tradução de Honório Marques). Custou-me (adivinhais?) um Euro.
O livro fala da demanda de um homem (Dom Pedro) pela mulher ideal. “Ideal”, no estreito horizonte mental da personagem, seria que jamais o traísse. Ao que se sabe, a história inspirou Molière (que nela se terá baseado, em parte, para a escrita de A Escola de Mulheres) e Beaumarchais (para a escrita de O Barbeiro de Sevilha).
No caso de Precaução Inútil, o título dá antecipadamente conta dos vãos esforços do demandante. A verdade é que Paul Scarron deveria ter conhecimento de causa quando falava do tema. Segundo se julga, a própria esposa experimentou, ao longo do casamento, os braços promíscuos de Sua Majestade Louis XIV.
Mas a narrativa vai muito para além da anedótica questão da fidelidade ou das humanas convenções em geral. Trata da condição da mulher e discute, pela via do exemplum, as vantagens e desvantagens da inteligência feminina.
Como Dom Pedro percebe, no final da história, não há no mundo virtude perfeita porque, falando-se de mulheres ou de homens, a imperfeição é parte da nossa condição (e mesmo a ideia de virtude não é pacífica). Percebe-se também que a estupidez, por muito simpática que se afigure, é sempre incompatível com a ideia de honra, visto que não há princípios e valores dignos de apreço sem inteligência que os perceba.
Nota importante: Juro, pela minha saúde, que é coincidência eu falar em tal (traição, estupidez, etc.) num dia de eleições presidenciais.
Coimbra, 23 de Janeiro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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