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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Precaução Inútil


Li hoje um pequeno romance (104 páginas) intitulado Precaução Inútil, de Paul Scarron, escrito na segunda metade do século XVII (Lisboa, Ed. Teorema, 2004, tradução de Honório Marques). Custou-me (adivinhais?) um Euro.
O livro fala da demanda de um homem (Dom Pedro) pela mulher ideal. “Ideal”, no estreito horizonte mental da personagem, seria que jamais o traísse. Ao que se sabe, a história inspirou Molière (que nela se terá baseado, em parte, para a escrita de A Escola de Mulheres) e Beaumarchais (para a escrita de O Barbeiro de Sevilha).
No caso de Precaução Inútil, o título dá antecipadamente conta dos vãos esforços do demandante. A verdade é que Paul Scarron deveria ter conhecimento de causa quando falava do tema. Segundo se julga, a própria esposa experimentou, ao longo do casamento, os braços promíscuos de Sua Majestade Louis XIV.
Mas a narrativa vai muito para além da anedótica questão da fidelidade ou das humanas convenções em geral. Trata da condição da mulher e discute, pela via do exemplum, as vantagens e desvantagens da inteligência feminina.
Como Dom Pedro percebe, no final da história, não há no mundo virtude perfeita porque, falando-se de mulheres ou de homens, a imperfeição é parte da nossa condição (e mesmo a ideia de virtude não é pacífica). Percebe-se também que a estupidez, por muito simpática que se afigure, é sempre incompatível com a ideia de honra, visto que não há princípios e valores dignos de apreço sem inteligência que os perceba.

Nota importante: Juro, pela minha saúde, que é coincidência eu falar em tal (traição, estupidez, etc.) num dia de eleições presidenciais.

Coimbra, 23 de Janeiro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho

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