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Número de Ondas

domingo, 2 de outubro de 2011

Portugal ordinário


Leio no CM (ed. de 02-10-2011): um aluno da Escola Secundária Alves Martins (Viseu), de nome Paulo Gonçalves, ganhou no Brasil uma medalha de bronze nas Olimpíadas de Química. Isto é, foi o terceiro melhor dos melhores do mundo naquela área do saber.O problema foi que, para representar o seu país, teve de descurar um pouco os estudos relativos aos exames finais do 12.º ano (2.ª fase) nas disciplinas de Biologia e de Físico-Química, situação que veio a redundar na impossibilidade de entrar em Medicina, como desejava. Obtendo "apenas" a média final de 17,7 valores, ficou a uma décima e meia de cumprir um honesto sonho de muitos anos. Aqui, reparai, foi tudo "legal", mas não me parece nada "justo".
Tratando-se de uma situação excepcional, dói-nos saber que o caso foi tratado de modo ordinário. ("Ordinário" fica muito bem neste enunciado.)

2. Um árbitro de futebol bastante medíocre (digo "medíocre" para não ser indelicado) chamado Bruno Paixão, que chegou misteriosamente a internacional, prejudicou hoje o Sporting Clube de Portugal de maneira obscena. Sem culpa do Vitória de Guimarães, que aqui apenas foi beneficiado por contingências de calendário (pois "outros valores mais altos se alevantam", decerto, nestes episódios tragicómicos), o cavalheiro do apito revelou dualidade de critérios, falhas grosseiras de julgamento, incapacidade técnica e física para acompanhar os lances. Num registo simpático e generoso, dele se poderá dizer que esteve ao seu nível habitual - um desastre.
O lado positivo de tudo isto está na dimensão formativa que o episódio compreende, se apreciado na ó[p]tica de Domingos Paciência: o treinador percebeu hoje por que se diz que um título ganho pelos leões corresponde, em Portugal, a quatro ou cinco dos outros. Quais outros? Perguntai ao senhor Bruno Paixão...

3. O que se aduz nos pontos 1. e 2. é uma sugestão de retrato - à vol d'oiseau - de um certo país que (ainda) somos: conservador no pior sentido, descuidado, avesso ao mérito, impreparado, ingrato, injusto. Às vezes, irrespirável. Sejamos, contudo, o[p]timistas: o Paulo Gonçalves lá entrou para Ciências Farmacêuticas (na Covilhã) e não desistiu de, mais tarde, voltar a tentar uma candidatura a Medicina. E o Sporting, apesar de tudo, não está senão a três pontos do primeiro lugar...

Ribeira de Pena, 02 de Outubro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.abola.pt.]

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