domingo, 31 de julho de 2011
Ferrugem
Estes meus olhos são os mesmos olhos meus que, em 1983, se emocionaram com a beleza amável do rio. Lembro-me: corri entre a Estação Velha e o Choupal, tomei um apressado banho, almocei, apanhei o autocarro n.º 2 (Praça da República-Pedrulha), passei pela oficina onde o meu pai trabalhava e obtive vinte escudos para café, escrevi à MP sobre metáforas ribeirinhas de amor e vida.
O Mondego é o mesmo (trotei por lá hoje, em marcha de quarentão tardio, suando as estopinhas).
Passaram, de um parágrafo para o outro, 28 anos.
Sinto já, na cabeça e no metabolismo em geral, a inelutável ferrugem. Vão falhando as articulações, a digestão fácil, os sonhos.
Apesar de tanto sol, não vejo razões para optimismos.
Entretanto, irmãos, tomemos café, passeemos, amemo-nos.
Como se não houvesse relógio.
Coimbra, 31 de Julho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.poesialusa.blogs.sapo.pt.]
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2 comentários:
Como se não houvesse relógio; como se não houvesse amanhã. Ainda assim, e vendo o que têm sido estes anos, é bom que haja "amanhãs". Pelos "ontens" e "hojes" que temos tido, são esses "amanhãs" - que nem sequer auroras são ainda - que nos tornam - tão totós que nós somos! - desejosos de viver. Um abraço. Bons "amanhãs"!
Muito certo e muito sábio, Jorge.
Abraço!
JJC
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