Havia, na rua da minha infância, um rapaz chamado Qualquer Coisa Matos. Dizia-se que tinha jeito para o desenho. O senhor Faustino do talho vira-o a pôr no papel o focinho de um cão e assegurava:
“Ficou mesmo aparecido!”
É claro que “aparecido” é, ali, corruptela de “parecido”. Aliás, pelo tempo fora, até hoje, ouço erros fonéticos iguais ou próximos.
Há minutos, no devir da leitura de um capítulo de Palomar (de Italo Calvino), lembrei-me do senhor Faustino. É que o escritor italiano reproduz tão certeiramente, ali, o ser humano que me apeteceu dizer-lhe:
“Ficou tão parecido, senhor Italo!”
Ou, para ser justo com a dimensão criadora do ofício literário:
“Ficou tão aparecido, senhor Calvino!”
Ribeira de Pena, 07 de Julho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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