segunda-feira, 4 de julho de 2011
Carreira do(c)ente
1. Vejo rostos fechados, gestos feros, bocejos desencantados, locução impaciente, alguma melancolia travestindo a resignação e vice-versa.
2. A temida-anuciada-fatal enxurrada burocrática fez-nos negaças no mês de Junho e desabou sobre o mês de Julho. Autómatos embrutecidos cumprem a sua tragédia funcionária: levantamento de faltas, seriação de acções e sessões de formação, preenchimento de grelhas grelhinhas grelhonas, cálculo (até às décimas) de classificações por domínios parâmetros itens, quotas (por universo específico) para Muito Bom, Excelente, Coisa Nenhuma, actas de reuniões preparatórias ou de monitorização do processo, legislação por decreto circular aditamento esclarecimento suspensão correcção, critérios de desempate, plataforma número de identificação palavra-passe, prazo para tomar conhecimento para reclamações para reapreciações para decisões, e-mails, telefonemas, recados, desespero desespero desespero desespero desespero desespero.
3. Para que é tudo isto (que é Nada)?
4. Converso com um colega, cúmplice do que profissionalmente (e pessoalmente) sou-quero ser. Coincidimos num conjunto de ideias tão singelas e luminosas como o dia lá fora: e se este mês de Julho – no todo ou em parte – fosse para tratar da mais preciosa matéria de todas – os alunos? E se os professores estivessem ocupados na recuperação de meninas e meninos com dificuldades de aproveitamento/progressão? E se os professores estivessem a ocupar-se (e aos nossos jovens) com projectos de música, teatro, literatura, desenho, escultura?
5. Ou, enfim, à falta de outra possibilidade interessante, se estivéssemos todos quietos sem gastar luz, papel, tinta e sangue em coisas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas estúpidas?
Ribeira de Pena, 04 de Julho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.economiaclara.wordpress.com]
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