Bússola do Muito Mar

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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mãe, Rainha, Santa


Eça de Queirós, em Correspondência de Fradique Mendes, diz (cito de cor) que as manifestações de fé são essencialmente sublimes, independentemente da entidade para que se evolam.
Confesso que me incomodam os (algo exibicionistas) martírios que algumas pessoas se auto-infligem, por exemplo subindo de joelhos a rua Visconde da Luz. Parece-me mais estupidez medieva que amor por uma divindade.
Mas quero falar-vos de um lado outro. Há muitos anos que conheço em minha mãe a devoção profunda pela Rainha Santa, padroeira de Coimbra. Tantas vezes lhe vi as bienais lágrimas, ao simples aparecimento da imagem, chegando da ponte de Santa Clara ou saindo da Igreja de Santa Justa. Desde menino que me habituei ao convívio, na casa materna, com réplicas (em cerâmica ou em papel) da Santa dos pobres, e sei bem da confiança que a minha mãe deposita nessa Senhora.
Ontem, pelas seis e meia da tarde, a minha mãe voltou a chorar e eu, pela primeira vez, dei-lhe um beijinho (como se fosse seu pai). Ela, menina, retribuiu o ósculo e talvez tenha encostado a sua cabeça no meu ombro.
Tenho por minha mãe a devoção que ela própria nutre pela esposa de D. Dinis.
A caminho do carro, estacionado bem longe, junto à faculdade de Letras, veio-me à cabeça uma letra de fado que, por muito kitsch que pareça a outros, tem sempre o condão de me emocionar. Reza assim (cito novamente de cor):
Vi minha mãe a rezar
Aos pés da Virgem Maria.
Estava uma Santa a escutar
O que outra Santa dizia.
Nem todas as velas de todas as confrarias de todas as procissões dos últimos quinhentos anos são suficientes para dizer a luz toda que uma Mãe é.

Coimbra, já 12 de Julho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bem escrito!!
Confesso que fiquei emocionada.


Arminda Vaz

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Obrigado, Arminda.
Bem-vinda (sempre) a este Mar.
Beijinho.

JJC