terça-feira, 6 de julho de 2010
Penso, logo, desconfio
Hoje, fui a um Banco tratar de assuntos familiares. Tratava-se de entregar alguma documentação e, por hábito, solicitei uma declaração confirmando que os documentos haviam sido, de facto, recebidos pela delegação bancária em causa.
Uma gentil senhora, funcionária naquele Banco, trouxe-me uma folha A4 em branco e solicitou-me que assinasse ao fundo do rectângulo. Percebendo o meu espanto, tranquilizou-me maternalmente:
- Não tenha medo, assine à vontade. Depois, nós imprimimos uma declaração dizendo que o senhor nos trouxe os documentos, e enviamos-lhe tudo para casa.
Recusei o convite, obviamente. A senhora, estupefacta com a minha atitude, lá foi buscar um carimbo para apor nas cópias das folhas que eu entregara e ofereceu-mas, pouco amigavelmente.
Pude perceber a acrimónia de mais alguns funcionários do Banco, face à minha pessoa.
Ainda me parece que esta minha desconfiança é sensata. Ainda me parece que, na história narrada, a anormalidade não está na minha desconfiança.
Mais: ao que sei, foi por confiança em excesso que o sistema bancário mundial ruiu.
Coimbra, já 06 de Julho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
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2 comentários:
A posse do dinheiro tornou-se o maior, quase o único, sinal de «respeitabilidade» no sentido antigo, burguês (não integridade ou honradez, mas sim o direito a ser tratado com deferência). Os bancos prestam-te um grande serviço: ficam com o teu dinheiro, põem-no a circular, investem-no, reaplicam-no, e já não precisas de te preocupar com o gatuno que te pode levar o dinheiro da gaveta. Como podes ousar desconfiar deles, ainda por cima quando usam fato e gravata? Poderias assinar depois, quando recebesses o comprovativo, mas como é que o banco teria a certeza de que querias mesmo receber um comprovativo? É natural que os bancos desconfiem dos clientes, pois estes têm menos dinheiro e pagam mais impostos do que eles. O inverso não é natural. Isto devia ser ensinado no 1º ciclo, juntamente com as contas de somar e as regras de higiene dentária. Vê lá se aprendes a comportar-te decentemente neste admirável mundo novo.
OK. Vou ver se me normalizo.
Abraço, Paulo!
JJC
PS: Gostei muito daquela da "respeitabilidade" no sentido antigo (e, de novo, moderno). Muito bem!
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