quinta-feira, 15 de julho de 2010
Cegos
Dois jovens cegos discutem sonorosamente, ao cimo da Conchada. Estão ambos embriagados, a uns vinte metros do restaurante onde, horas antes, terá havido uma festa estudantil.
O cego mais baixo dá conselhos ao mais alto, e este ri-se muito da ponderação daquele, lançando-lhe palavrões. Percebe-se que, dos dois, o que grita mais é o bêbedo em pior estado. Isso torna o outro menos cego.
Um velhinho, em estupor cúmplice do meu, observa a cena e, antecipando-se à minha própria intervenção, oferece-lhes ajuda.
O cego mais alto recusa e gargalha, revirando os olhos. O outro explica que estão à espera de colegas. Mas talvez esta versão não corresponda verdade, já que – logo de pois de o ancião se afastar – ele telefona para alguém e pede auxílio.
- Estamos os dois perdidos – confessa.
E eu, que ia a pensar em coisas tristes, disse para mim mesmo:
- Já somos três.
Coimbra, 15 de Julho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A foto-supra foi colhida – com a devida vénia – em http://www.comboios.org.]
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