Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 1 de julho de 2010

África deles


Tínhamos dois laterais direitos (Miguel e Paulo Ferreira) que, em termos de valor absoluto, não são grande coisa, mas eram os que tínhamos.
Tínhamos um trinco (Pedro Mendes) que, em termos de valor absoluto, não é grande coisa, mas era o que tínhamos.
Tínhamos um médio criativo (Deco) que, em termos de valor absoluto, era dos melhores do mundo, embora não fosse português.
Carlos Queiroz optou por um falso lateral (Ricardo Costa) que, para além de atacar pouco ou nada, defendeu mal. Questão – digo eu – de falta de rotina(s).
Optou por um falso trinco (Pepe) que, para além de lento a defender, foi lento e desajeitado a atacar. Questão – digo eu – de falta de rotina(s).
Optou por deixar de fora Deco, convencido de que certo Tiago goleador (“goleador” contra o Olhanense ou o Leixões do Mundial – a Coreia) também serviria para a Espanha. Eu creio que, lá na sua professoral cabeça cheia de medo, ainda havia a possibilidade de incluir Deco durante a segunda parte. Mas Pepe saiu esgotado (como já acontecera, menos dramaticamente, contra o Brasil) e assim se queimou uma substituição. Entraram Dany, Liedson e Pedro Mendes – e já não pôde entrar o mágico brasileiro que esta selecção nunca bem teve.
A culpa de a Espanha ser melhor do que nós não é dos portugueses; é da Espanha, que tem um meio-campo como o que, em 2004, tínhamos nós. Mas a falta de qualidade (de atitude, de elegância e de eficácia ofensiva) é “nossa”. Aliás, é de Queiroz.
Que pena tive de Ronaldo, utilizado sempre como se se tratasse do craque de uma equipa de terceira divisão que visitasse a Luz, Alvalade ou o Dragão – servido à base de pontapés longos, sem apoio, sem fio de jogo! Quem não sabe nada de futebol há-de culpar o genial madeirense, eu sei. Mas quem gosta (e sabe um bocadinho) de futebol não cairá nesse erro. Muito gostariam os brasileiros, os espanhóis, os italianos ou os ingleses de ter Ronaldo!
O destino, por razões que se calhar até a Nosso Senhor escaparão, fez muito cedo de Carlos Queiroz um campeão mundial (de sub-20). Foi há umas duas dezenas de anos. Esse acaso dificulta, por momentos, que se perceba neste treinador a característica que fundamentalmente o marca: o medo, a gritante falta de audácia, os complexos, a incompetência.
Tirando a acidental Coreia, atacámos o zero. Fomos (quase) zero.
Jorge Jesus talvez seja a antítese do actual treinador de Portugal. Em vez de livros e teoria, tem a paixão do jogo e a ousadia. Com o benfiquista ao leme da selecção, talvez perdêssemos de qualquer modo com a Espanha, mas teríamos deixado a identidade própria do futebol português: qualidade, beleza, prazer do bom futebol.
Com Mourinho, que leu os livros de Queiroz mas é mentalmente mais forte, talvez o futebol fosse também, aqui e ali, queiroziano, mas a atitude seria certamente diferente da que patenteámos no Mundial da África do Sul.
Se o senhor Carlos Queiroz honrosamente se demitisse já, renunciando a indemnizações principescas, eu perdoava-lhe parte deste desgosto que, desde as 21h30m do dia 29 de Junho, me enevoa a alma. Mas, como diria o outro, “Tá bem, tá”.

Ribeira de Pena, já 01 de Julho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

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