Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

sábado, 26 de junho de 2010

Viagem vista do Berço







Durante o ano lectivo de 2008/2009, leccionei a disciplina de Estudos Literários na Universidade Sénior de Cabeceiras de Basto.
Durante alguns meses, levei a turma a territórios consabidos de modos e géneros. Visitámos, por exemplo, Júlio Dinis e algum Eça, na narrativa; Fernando Pessoa, Ruy Belo, Manuel António Pina, Eugénio de Andrade, Jorge Sousa Braga e Daniel Abrunheiro, na poesia; Sttau Monteiro, Saramago e Garrett, no drama.
Em boa verdade, tratou-se de uma viagem que era muitas viagens, tão difusa e rica é a pátria da literatura em versão de língua portuguesa. Comigo viajaram os alunos seniores, público cheio de interesse, de energia e de vontade de participar. As aulas – ou sessões, como eu preferi sempre chamar-lhes – foram sobretudo um encontro: eu com os meus estudantes-colegas-cúmplices; nós com os textos-os autores-os mil países de sentido & beleza que há nas palavras com mundo dentro.
Um dia, depois de estoicamente me haverem aturado a teoria, sugeriram a possibilidade de experimentar o teatro. Não faltou quase nada para eu os desafiar a tal. Outra vez a ideia de viagem me serve para explicar a magnitude do que decidimos fazer: imaginai, digamos assim, um mar entre nós e o que queríamos; imaginai um barco à espera de gente que tratasse das velas e que, à falta de vento, remasse. Isso mesmo: era uma vez uma peça de teatro à espera de tornar-se realidade.
Marcámos a navegação para o ano lectivo de 2009-2010. Compromissos académicos obrigaram-me a adiar o arranque para Janeiro do presente ano. Hesitantes à partida, aparelhámo-nos em terra (com texto que servisse, teoria q.b., leituras, experiências) e depois fizemo-nos ao mar.
A nossa Índia aconteceu ontem, no Auditório do Mercado Municipal de Cabeceiras, pelas 21h30m. Na presença de muito público, representámos "Romeu e Julieta - Versão Sénior". Como adivinharão, não se tratou simplesmente de uma peça de teatro: foi o porto merecido de uma inteira equipa que se atreveu a sonhar uma viagem difícil apenas - ou sobretudo - porque era uma viagem bela.
Séniores? Só se for no pormenor do bilhete de identidade. Se, como eu profundamente acredito, ser jovem é ser portador de novidade, então estes senhores e estas senhoras estão na flor da vida.
Foi um prazer encenar tão querida e talentosa gente. É uma honra tê-los como Amigos.

PS: Aos amigos supra-ditos (Lucinda, Alice, Arminda, Joaquim, Barroso, Olga, Filomena, Manuel Carneiro, Teresa Mendes, Alcina, Fernanda, Ana, Teresa Ramos, Pereira, Ferreira, Alexandre) acrescento a Rosa Pires e a Nani, que nos ajudaram com eficiência e doçura invulgares.

Ribeira de Pena, já 26 de Junho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[Nota: Oportunamente, espero recordar este acontecimento com outras fotos obtidas in loco.]