Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 8 de junho de 2010

Aldeia onde valha a pena


1.
Deixai-me evocar aqui alguns pormenores que em A Morgadinha dos Canaviais, um delicado e (também) poderoso romance de Júlio Dinis, pude colher.

2.
A personagem Vicente, um ervanário já muito velho, vê a sua casa e as suas árvores, plantas e flores serem destruídas para que uma nova estrada atravesse a aldeia. Morre, mais de desgosto que de velhice, poucos dias depois.
A personagem Cancela, um almocreve de uns 35 anos, viúvo, vê morrer a sua única filha, Ermelinda, devido a doença. (A doença talvez fosse consequência de jejuns e outros martírios fanáticos que uma seita por ali recomendava às almas ingénuas.) Cancela decide emigrar para o Brasil.
A personagem Augusto, jovem mestre-escola, é vítima de injustas suspeitas de abuso de confiança e roubo. Desesperado, decide também emigrar para o Brasil.

3.
Augusto consegue provar a sua inocência e já não emigra para o Brasil. Aliás, acabará por desposar a mulher amada (Madalena, a Morgadinha).

4.
Há uma moral literária e humana a retirar do que aqui se recorda. Augusto já não emigra porque recuperou a esperança. Ficará, pois, na sua aldeia.
Precisamos todos de uma aldeia de esperança onde valha a pena viver.
Sem esperança, que fazer senão emigrar ou morrer?
(Morrer, aliás, é uma forma violenta de emigração.)


Coimbra, 08 de Junho de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem-supra é a de um monumento a Júlio Dinis, erigido no Porto, e foi colhida – com a devida vénia – em wikipedia.]

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