Nesta semana sem aulas, pude oferecer-me mais generosamente o prazer da leitura: José Vilhena (vários), Vargas Llosa (O Sonho do Celta), Daniel Abrunheiro (Raça Etérea).
Deixai que vos ofereça algumas linhas sobre este livro (ainda inédito) de Daniel Abrunheiro.
O escritor, que é - em Portugal - decerto o mais importante do meu tempo, inventou uma nova forma de escrever. Não é a primeira vez que o noto e digo. Genologicamente, reitero, é um objectivo problema ou um maravilhoso desafio para eventuais estudiosos, conforme os tomates da perspectiva: poesia (sobretudo Isso), crónica, narrativa, aqui e ali laivos de texto dramático misturam-se e interpenetram-se. Por dentro de cada frase ou período, explodem imagens, brotam anacolutos, serpenteiam anástrofes e hipérbatos, acendem-se hipálages. A leitura lá vai atrás dessa escrita acrobático-artística e, mal tendo tempo para respirar face a tanta novidade incontinente, corresponde-lhe como pode em sensibilidade e ourivesaria.
Tenho pena de o meu calendário ser tão pequeno para tanta exegese merecida! Pior que pena: remorsos por não replicar devida e oportunamente esta riqueza manuscrita.
Sem olhar para o livro, sou agora capaz de citar - como uma música aprendida de repente - algumas ideias, certos ritmos, singulares frases. Por exemplo: a ideia de o poeta ter de escrever para não prescrever. Ou aqueloutra de cada pessoa ser uma janela para vermos o mundo.
Olho ainda para o (vo)lume lido e salta-me à vista uma página marcada (59.2). Sublinhei ali:
"Isto de caminhos que por aí vão - tudo vias-sacras.É individual a visão - como património são o visto e o invisível."
Coimbra, 30 de Março de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem (foto do D.A.) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.amadeubaptista.blogspot.pt.]
2 comentários:
Tem sido um enorme prazer ler Daniel Abrunheiro! Seria bom que mais o conhecessem!
Quanta gentileza tua/vossa.
"os tomates da perspectiva": maravilha.
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