Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

domingo, 17 de março de 2013

Sem rede


A era dos telemóveis contribuiu (supostamente) para o reforço da comunicação entre os seres humanos. Mas acontece-nos, por vezes, este incómodo moderno de ficarmos, de um momento para o outro, "sem rede". Sem darmos por tal, pode suceder que continuemos a falar, crendo que a comunicação se está concretizando. Ao fim de alguns segundos (ou até de muitos segundos), percebemos o logro e substituímos a fala pelo silêncio embaraçado. Quiçá digamos para os nossos botões: "Estava a falar para o boneco." ("Para o boneco" significa, claro, falarmos para ninguém. Ou significa, numa outra perspectiva, falarmos sem que ninguém  nos escute.)
Sucedeu-me isto hoje mesmo, durante uma conversa divertida com o Daniel Abrunheiro. Estabelecida a religação, rimo-nos da situação e eu saí-me com esta:
- Estava a falar sozinho, sem ninguém a ouvir-me. É, em parte, a história da minha vida...
Rimo-nos outra vez, cúmplices de uma cumplicidade de quarenta anos. Mas, penso agora, havia (há) nesta casual frase, ao telemóvel, alguma tristeza metonímica. Tristeza séria.
Fala-se, escreve-se - muitas vezes para nada. Por, creio eu, falta de rede.

Ribeira de Pena, 16 de Março de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.mghorta-osa.blogspot.pt.]

Sem comentários: