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terça-feira, 19 de março de 2013

Hallam Foe



Começa tudo outra vez no Jumbo, na zona de devedês (grafia minha) em promoção. Compro por um euro e noventa cêntimos um filme de David Mackenzie, intitulado Hallam Foe (de 2007). Razão confessada: o rapaz na capa parece-se muito com o do protagonista de um maravilhoso filme de Stephen Daldry, Billy Elliot. Confirmo, já em, casa, que se trata do mesmo actor – Jamie Dell.
Enquanto a MP, que é mais resistente do que eu, acompanha na sala as manigâncias do Eurogrupo na sua tarefa urgente de dar cabo do Chipre, ponho-me a ver a história de um rapaz que, como o Billy do filme de Daldry, é órfão e (ainda) não conseguiu superar a partida da amada progenitora.
Hallam sobrevive como um náufrago, agarrando-se a tábuas frágeis e mínimas: memórias, observação do quotidiano, busca (incerta e talvez louca) de verdade e de justiça. Entretanto, odeia e ama. Ataca e foge. Aparece e esconde-se.
A sua principal característica (e a que à minha particular sensibilidade mais cativa) é talvez o ofício voyeur que ele desempenha com argúcia e, na maior parte dos casos, admirável discrição. Foi por causa deste filme que me ocorreu uma sextilha sobre um Simão moderno (fugido à decência romântica) que olha, sem vergonha da própria curiosidade, para Teresa, nela divisando alguma nudez voluntariamente revelada…
Tirando uma certa dimensão demencial (que compreende até a mental incursão pelo incesto), a história deste filme é simples e encantadora, como acontece com a maior parte das boas histórias. No final, a provisória amante do rapaz (interpretada por uma deliciosa Sophia Myles), mais velha que ele uns dez anos, explica-lhe carinhosamente o fim do romance. Pede-lhe, sorrindo, que a volte a procurar uns cinco anos depois. Hallam pergunta-lhe se, nessa altura, continuará linda como nesse momento.
Ela responde: “I hope so.”
E o rapaz acredita: “You most certainly will be…”
Entretanto, fora do mundo maravilhoso da arte, alguns pançudos davam cabo do Chipre – mas essa é outra narrativa.

Ribeira de Pena, 18 de Março de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[As duas imagens foram colhidas, com a devida vénia, respectivamente, em http://www.imdb.com e http://www.scottishscreen.com.]

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