Percorri, hoje, ruas da eterna Coimbra, junto a muitos contemporâneos cúmplices, uns desconhecidos, outros conhecidos, outros muito próximos, cantando Zeca vila morena, gritando que está na hora, que o povo unido, que onde não há pão não há sossego, que basta.
Bem sei que, apesar de tudo, éramos todos, naquela união momentânea, uma espécie de ilhas, quero dizer: cérebros e corações diferentes, gente com opiniões díspares sobre diagnóstico e receitas. Sei bem. Estávamos nesse lugar a que poderíamos chamar, na retórica de Régio, o lugar de apenas sabermos que não vamos por aí. De não sabermos ainda, talvez, por onde vamos, para onde vamos. Mas, lembro eu, a revolução de Abril também foi assim, não foi?, com toda a gente a cantar a mesma gaivota e a votar em quinze partidos diferentes. Sabe-se lá, digo eu, se não está por aí a nascer outra madrugada limpa que dure mais dez ou quinze anos lindos...
Um senhor de uns cinquenta anos lembrava a um jovem (talvez familiar) que "os gajos foram para o governo com um programa e estão a fazer tudo ao contrário". Foi, para mim, o discurso mais lúcido da tarde. Esse e um outro que, sob a forma de canção, ajudei a interpretar num coro emocionante, ali pela rua Ferreira Borges, com a MP, a VL, a Graça, a Isabel, a Guida, a Mité, milhares de avulsas vozes: "O povo é quem mais ordena / Dentro de ti ó cidade!"
Anoiteceu, como tinha de ser. Doem-me agora os braços de ter carregado, sempre bem alto, aquela indignação com que acordo e adormeço há muito tempo: Basta.
E, deixai que vo-lo diga, soa-me muito bem, neste contexto d'hoje, essa honesta palavra: Basta! Basta! Basta!
Coimbra, 02 de Março de 2013.
Joaquim Jorge Carvalho
[Fotos VL.]
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