domingo, 18 de março de 2012
Não quero falar do Sr. Mexia
Era para falar do escândalo que os jornais noticiaram - os honorários dos senhores da EDP, com relevo para essa figura misteriosa chamada Mexia. Mas não. Vou falar de outra coisa, está bem?
Uma familiar foi atendida, hoje, nas urgências do Hospital da Universidade de Coimbra. Soube, escandalizado, que a taxa moderadora (assim designada por algum brincalhão da nossa Política) importaria em vinte Euros. No momento final do assalto, soube que não era bem aquela soma: no total, deveríamos pagar vinte e dois euros e essenta cêntimos. Quis saber porquê. O administrativo lá me explicou, generosamente: os dois Euros e sessenta cêntimos "a mais" resultavam do facto de à paciente ter sido aplicada uma injecção.
Isto é: pagamos impostos (também para a Saúde, claro); pagamos a taxa "moderadora"; e pagamos o "material" utilizado!
Em breve, talvez se leia à porta dos hospitais e centros de saúde: Pobre não entra. Ou: Se não tem dinheiro, não adoeça (e, se adoecer, tenha paciência). Ou: Portugal não é para si, miserável!
Coimbra, 18 de Março de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.cnotícias.net.]
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2 comentários:
O Sr. Mexia, de quem não queres falar, pagaria o mesmo. É de supor que uma nota de vinte euros (aliás, é uma questão de Matemática...) é para ele menos do que uma moeda de vinte cêntimos para nós, já que aufere sozinho mais do que cem como nós. Quanto ao princípio do utilizador-pagador na Saúde, se é certo que o envelhecimento da população, o aumento da esperança de vida, a complexidade crescente dos tratamentos, etc., obrigam a um aumento constante dos custos do sistema, a verdade é que aplicar o princípio é o primeiro passo para um recuo civilizacional aterrador: chegaremos, em breve, a discutir não a eutanásia consentida de doentes terminais (com que eu concordo, em condições como as que vigoram na Suíça) mas sim a eutanásia compulsória de velhos que os contribuintes não querem (e as famílias não podem ou também não querem) sustentar nem tratar.
Concordo com tudo quanto dizes/escreves. O presente, convenhamos, já é mau. E o futuro (não obstante o optimismo humanista a que, como professor, me sinto obrigado) assusta...
Abraço!
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