quarta-feira, 14 de março de 2012
Mar (salgado na língua)
Dezenas de substantivos, quase todos avulsos e bisonhos, percorriam a praça fronteira ao Café. Eu vi-os e era como se eles não existissem. Faltava-lhes aquela chispa qualquer de vida que nos obriga a reparar na existência dos seres.
Depois, chegou o sol. A luz e o calor de Março incendiaram a praça. Os substantivos abriram a boca de espanto (ou de gozo) - e deram todos em dançar, cantar, dizer versos, como se aquele dia fosse, afinal, diferente dos dias normais. Dia, digamos, de festa.
Passaram pertinho de mim, os substantivos, não houve como não os ver. E assim, de perto, olhados com o sol sobre si, via-se que tinham, na maior parte dos casos, adjectivos agarrados ao cabelo (como flores), e às orelhas (como brincos), e aos narizes (como piercingues), e aos lábios (como beijos), e aos olhos (como o amor).
O último chamava-se Mar. Olhou-me e tinha na língua uma pedrinha de sal em forma de coração.
Ribeira de Pena, 14 de Março de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.anos60.wordpress.com.]
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