sábado, 17 de março de 2012
Sobre a arqueologia pessoal
A ideia de ruína (ou ruínas) é frequentemente associada a decadência, tristeza, fealdade. Mas eu gosto, não poucas vezes, de ver as coisas do avesso e, se possível, por dentro.
Há um lado na ideia de ruínas que, acima de todos, aprecio. Falo da possibilidade de, por entre certa fenda da pedra ou de madeira, ir o nosso olhar até à intimidade de uma divisão, de um móvel, de um quadro, de uma família passada.
Uma casa, por exemplo. Uma casa é também o que lá tem dentro (pessoas e amores, memórias de pessoas e amores). Nos interstícios das ruínas, pode o nosso olhar alcançar esses segredos maravilhosos, isto é, a humanidade que ali houve (ou a humanidade que, pela lembrança ou pela especulação poética, ali permanece).
Um homem, por exemplo. Um homem é também tudo quanto, sob a casca cínica do tempo, existe de outrora e de querer ser. Olhando bem por entre as ruínas do rosto, das articulações, da sua voz talvez enegrecida, podemos ver pessoas e amores, quase sempre na versão a sépia da recordação.
Gosto de ruínas, sim. Sou, à minha maneira, arqueólogo de humanidades. Arqueólogo de mim.
Ribeira de Pena, 17 de Março de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.arabrandes-restaurando.blogspot.com.]
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