sexta-feira, 2 de março de 2012
Mundo nos eixos
À mesa do Café por uma hora
Está o mundo nos eixos, a dor
suspensa o fim adormecido
os meus olhos mansamente detendo tudo
quanto do mundo cabe no verbo olhar
(incluindo o que não chego a ver)
Na parede sobre mim um relógio
funciona tão lentamente como se afinal não
e uma ou outra beleza cruza este espaço
(como eu ignorando o tempo passando)
Isto é, mulheres desenhando-se no horizonte
como estátuas vivas, retratos formosos
De pernas e outras perdições com carne e luz
Isto é, Senhor, o mundo nos eixos
A minha Mãe está doente (melhorzinha,
garantiu-me) mas prefiro ver por enquanto
o sol, a mansa cor de Março sobre a vila do Arco
a quase paz que é este arremedo de Mar com montes
e os minutos deste relevo como ondas dormindo
O mundo nos eixos, sabei, uma ideia minha
Talvez arredada (talvez) da realidade
da crua infelicidade fisiológica de sermos
humanos, da vida enfim em seu esqueleto mínimo
Do mundo sem sonhos
O mundo nos eixos (minha Mãe, falamos
mais logo), embora a hora passe e o relógio
sobre mim não leia poesia.
Arco de Baúlhe, hora d'almoço, 02 de Março de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.fotos.estadao.com.]
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