Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

domingo, 11 de março de 2012

"A Literatura serve para quê?"



Alunos do 2.º ciclo de Ribeira de Pena e Cerva leram, ao longo de uma semana, uma novela minha intitulada Um Barco Chamado Sophia Loren. Isto é, a vida ofereceu-me, não sem um sobressalto provinciano que me é desculpável, a possibilidade de conversar com alunos sobre um livro meu e que eles, de facto, tinham lido e de que - glória, glória, aleluia! - tinham gostado.
Falei-lhes de Linguagem, como capacidade que nos distingue (nos deve distinguir) de outros seres e coisas sem alma; e de Língua, como instrumento fundamental para nos compreendermos uns aos outros e a nós mesmos; falei-lhes de Literatura, como representação artística, fundada na Língua, do mundo, da existência, da carne e dos sonhos de que somos feitos.
Falei-lhes, na foz do discurso, da Narrativa, como ordenação técnica-ética-estética da nossa vida (aquela que temos e a que podíamos ter) - e ilustrei esta última dimensão com a biografia de Um Barco Chamado Sophia Loren.
Uma espécie de intimidade linda caiu, acho eu, sobre o magnífico Auditório Municpal de Ribeira de Pena, enquanto conversávamos. À roda dos livros (sobretudo, à roda da Narrativa), elevámo-nos - por cerca de uma inteira hora - à condição de uma tribo amigável.
No final, houve tempo para algumas perguntas. A primeira a pôr o dedo no ar foi uma menina muito bonita, sentada na primeira fila, que estivera sempre atenta ao longo da minha exposição. A sua pergunta foi: "É verdade que o senhor foi professor da minha mãe?"
Um texto a haver fará deste momento um ponto de partida para uma narrativa. Recordo: há uns dezasseis anos, uma aluna foi, num distante presente de 1996, a futura mãe de uma aluna outra que, neste hoje amanhã de então, ouve a (não exactamente) mesma pessoa falando de contos, novelas e romances cheias de humanidade dentro.
Isto é: quem sou eu? O que é o Tempo, a Vida? Como somos nós?

Ribeira de Pena, 11 de Março de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho

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