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sábado, 11 de agosto de 2018

Poema de pedra & madeira



Na praia de Machico, sobre o calhau, existem rectângulos de madeira a que sempre ouvi chamar pranchas. Servem para as pessoas ali estenderem as suas toalhas e se deitarem, prevenindo o incómodo de pousar directamente o corpo nas pedras. Para a toalha não voar com o vento, o turista habitua-se a colocar pedaços de basalto sobre o tecido (duas pedrinhas em cima & duas em baixo). 
Testemunhei, ao fim do dia, um flagrante caso de poesia envolvendo estas pranchas. (Já o relatei ao Daniel Abrunheiro - ele riu-se e fez uma piada qualquer sobre a minha idade.) 
Sucedeu que uma formosa estrangeira de fato de banho amarelo, dando por terminada a tarde, pôs sobre si um vestido azul, calçou-se, recolheu a toalha e afastou-se, deixando duas pedras apenas sobra a tábua nua, uma ao lado da outra (com poucos centímetros entre si) – como seios calcários, espécie de fósseis convexos que guardavam a memória do busto feminino dali saído há minutos. 

Machico, 11 de Agosto de 2018. 
Joaquim Jorge Carvalho
[Foto JJC]

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