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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Conceição presente


Aos 23 anos, conheci um dos meus melhores Amigos. Não tenho muitos, talvez (só) mais dois ou três. Porque, percebei, isto de chamarmos Amigo a alguém tem – deve ter – muito que se diga. A banalização da Amizade maiúscula é estúpida, perigosa e ridícula: aqueles que se vangloriam de ter muitos amigos esquecem-se de que essa circunstância, a ser verdade, significaria a fatal desvalorização desse tesouro tão especial. 

O Amigo de que falo chamava-se José António Conceição (para os amigos, “o Conceição”, ou simplesmente “o Conça”). Era um campeão em quase tudo – na robustez física, na coragem, no desassombro, no talento desportivo, no sentido de humor, na inteligência e na generosidade. E era sportinguista, pormenor engraçado para um leão comme moi
À traição, a foice oncológica veio e levou-o no dia 30 de Julho de 2014. Andei a chorá-lo (literalmente) por meses seguidos e ainda hoje me espanto e indigno perante o seu brutal desaparecimento. E tantas vezes dou por mim a recordar deliciosas histórias em que o grande Conça era o protagonista! 
Hoje mesmo, estive no cemitério da Pedrulha, em frente à sua campa (que a minha irmã, viúva do meu Amigo, cuida com desvelo absoluto), recordando a sua figura e o seu modo de ser. Ao contrário do que temia, estas visitas à residência tumular do Conceição não me provocam angústia ou dor; ao contrário, sou normalmente envolvido por um misterioso manto de bem-estar, de tranquilidade, de paz. 
Confissão: não gosto de chamar àquele lugar “última morada”. A última morada de quem parte é o coração e a memória dos que ficam (para sempre incompletos, para sempre saudosos). 

Coimbra, 31 de Julho de 2018.
Joaquim Jorge Carvalho 

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