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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Mestre João


Mestre João, meu sogro, partiu há oito anos, no dia 30 de Julho de 2010. O título de "Mestre" teve origem no seu estatuto profissional, ganho ao longo de décadas na construção civil. Mas, com o tempo, o epíteto passou a representar, na minha cabeça e na de todos quantos o conheceram, o justo reconhecimento da sua sensatez e da sua sabedoria, qualidades que – sensatamente, sabiamente – cruzava com uma visão bondosa e alegre da humanidade. Estou a vê-lo num Café qualquer do Sítio do Piquinho interrogando o proprietário: “Foi o senhor ou o seu irmão que morreu há dias?”; dirigindo-se a um estouvado que quase nos atropelara com uma motorizada furiosa: “O que o senhor precisava agora era de… uma boa tarde!”; falando-me da sua ideia de religião: “A minha Igreja não tem tecto!”; reagindo à morte de uma vizinha, amiga da família: “É triste, mas também é natural, A morte faz parte da vida…”; brincando com a prosápia de um filho (muito novo) que garantia ser o mais inteligente da família: “Não és sábio, és sabão: talvez o burro mais esperto que eu conheço!”; filosofando sobre pobres e ricos, intelectuais e operários, novos e velhos: “Todos somos dependentes de todos, não é verdade?”. 
A maior homenagem que lhe faço, de forma visível ou secreta, é perguntar-me muitas vezes, quando a vida me exige certas respostas, escolhas, opções: o que pensaria/diria/faria o Mestre João se estivesse aqui? 
Ele decerto sofreu também as suas dúvidas, decerto sentiu as suas próprias fragilidades, decerto errou de quando em vez, decerto conviveu com os pontuais falhanços e as desilusões de que a humana existência também é feita. Mas a sua palavra e a sua presença eram, regra geral, monumentos de bom senso e de bondade. 
Saudades, ó Mestre! 

Coimbra, 30 de Julho de 2018.
Joaquim Jorge Carvalho

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