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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Aniversário de falta



Há quatro anos, quando eu e a MP passeávamos melancolicamente pela praia de Machico, ante-sofrendo a morte do Mestre João (meu sogro), tocou o telemóvel. Vi pelos olhos dela que o Mestre João partira. Seriam seis horas do dia 30 de Julho de 2010. 
Eu tinha chegado à Madeira no dia anterior e ainda o visitei, no Hospital do Funchal, umas três horas antes de o óbito ser declarado. Vi-o numa espécie de sono violento, já fora do mundo, ofegante como um atleta no final de uma maratona.
Ao telefone, um mês e meio antes, eu informara-o da compra de bilhetes para o avião e do nosso encontro iminente. Embora feliz, ele quis logo saber o dia exacto da viagem para a Madeira. E, quando lhe disse "29 de Julho", suspirou e lamentou que ainda faltasse tanto tempo...
Talvez adivinhasse o epílogo. Que saudades, senhor João!
Tenho coleccionado, nos últimos anos, muitas despedidas e, na minha cabeça, a presença dos vivos já não me parece, agora, tão mais numerosa e relevante que a dos mortos.
Mas o senhor João continua inesquecivelmente vivo em mim (como, aliás, o meu Pai, o José Manuel, o Francisco Botelho, o jovem Domingos, o querido Conceição). De modo que a morte, digo eu, havendo saudades nos que ainda por aqui ficam, respirando-sofrendo, não será bem o fim. Não é o fim.

Coimbra, 30 de Julho de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho

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