Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Quarto & Aranha



O quarto onde eu dormia em criança
Está vazio por motivo de obras:
A minha mãe decidiu que era hora
De geral pintura das paredes.
Está o quarto vazio também de mim
E eu tão cheio dele e do que nele havia
Em minha meninice – de futuro e de sonhos
E de solidão boa (no intervalo do ruído do mundo).


Descobrimos subitamente, no quarto, uma aranha
Actual, mas talvez trineta de uma outra antiga
Que há quarenta anos, ali mesmo, me assustou
Atravessando a suspensa distância entre a lâmpada
E a única janela do quarto:
Entre a luz da EDP e a luz do sol.


A minha mãe tem o horror de aranhas
E mata aquela com o seco chinelo…
Eu fico a olhar a inútil teia sem inquilino

Deste preciso lugar onde era menino. 

Coimbra, 06 de Agosto de 2014.
Joaquim Jorge Carvalho
[Este poema faz parte de um volume a que chamei Escrever sobre não estares (2010). A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://www.adesobertaguiada.blogspot.com.]

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