segunda-feira, 27 de junho de 2011
Sobre uma coisa chamada Viver
Viajar de comboio é talvez a imagem mais próxima que tenho da vida passando. Eu-passageiro avanço, à boleia férrea e imparável da locomotiva, mas vejo bem como, simultânea à conquista de metros-lugares-pessoas, vou perdendo pessoas-lugares-metros.
Viajo/vivo, portanto, ganhando e perdendo ao mesmo tempo. A viagem terá um fim, claro. Só então terminará a minha colecção de perdas; igualmente nesse momento, nada mais terei para ganhar.
Eis que os alunos do nono ano se despedem de nós, embarcando noutras etapas. Eis que colegas se esfumam nos destinos avulsos de cada um e nos deixam a sua falta em lugar das suas humanidades. Eis como a nossa existência lectiva se interrompe para, a prazo, novos rostos e vozes e passos se juntarem a rostos e vozes e passos que somos.
Avançamos, portanto, à boleia férrea e imparável do comboio da vida. Perdemos. Ganhamos. Perdemos.
Não há fim enquanto não for o fim. Pouca-terra, pouca-terra.
Arco de Baúlhe, 8 de Junho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[Este texto foi publicado, em primeira instância, no terceiro número deste ano lectivo do jornal "Arco-Íris" (Junho, 2011). A imagem (Estação Velha, Coimbra) foi colhida, com a devida vénia, em http://www.agripinas.blog.com.]
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2 comentários:
...saudosista!!!
Very much!
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