terça-feira, 21 de junho de 2011
Anedota ordinária (com Bocage, para disfarçar)
Era uma vez, outra vez, Bocage.
Noite sadina avançada, o poeta ama uma cantora estrangeira (talvez italiana, se considerarmos o facto de ela gemer com as vogais muito abertas) e compõe, mentalmente, certo soneto com vocação para escândalo.
Na sala ao lado, um amigo do escritor, religioso mais de ofício que de vocação, extermina garrafas de tinto e pedaços de frango, fingindo-se incomodado com o barulho dos amores vizinhos. Berra:
- Manuel Maria! Elmano! Afasta-te das mulheres que elas são o Mal!...
O pré-romântico responde-lhe lá de dentro, comovido pela violência (urrada, dramática) do êxtase da fêmea:
- Deixá-lo, padre inquisidor. Há males que se vêm por bem!
Ribeira de Pena, 20 de Junho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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