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Número de Ondas

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Lobo Milagreiro


Um livro emprestado pela minha colega Filomena Ribeiro (que lecciona Língua Portuguesa, no segundo ciclo) entreteve-me as horas do feriado do Dia de Corpo de Deus. Com base num escrito de S. Francisco de Assis, um francês do século XX, Raymond Bruckberger, construiu uma bela história sobre o bem e o mal, a justiça e a perfídia, o egoísmo e certa solidariedade (não tenhamos medo do adjectivo...) cristã.
A novela intitula-se O Lobo Milagreiro (Ed. Lisboa Editora, 2007) e tem tradução para o Português do grande Jorge de Sena. Reitero, à boleia magnífica desta narrativa: os nossoa alunos aprendem a gostar de ler, lendo. A selecção de textos deve, no primeiro, no segundo e no terceiro ciclos (pelo menos, neste universo básico), ter em conta o interesse da intriga, a competência da narração, a clareza do enunciado – e ainda um fundo edificante que, a não existir, desperdiçará uma das dimensões fundamentais da leitura no contexto educativo.
Por isso me congratulo com o facto de, em meu tempo de menino, ter contado com professores que me deram a ler histórias com – não tenho vergonha disto !… - “moral”.
Eu sei, hoje, que a noção de “moral” artístico-literária não é, não deve ser desligável da própria escrita (de cada escrita) e, em muitos casos, se restringe ao universo único e específico de cada obra em particular que lemos/apreciamos.
Mas na “base”, como diria Eça, aprendem-se e consolidam-se aspectos básicos.
Não é mau que os jovens leitores se habituem a reconhecer na literatura um potencial edificante: Isto é, um esforço de, pela palavra, se perseguir a justiça. De se perseguir a verdade. De se perseguir o bem. De, enfim, se perseguir a Beleza (que é, como dizia o senhor Platão, isto tudo junto).

Vila Real, 23 de Junho de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

As mentes jovens necessitam de parábolas como esta. Para mim, «O Lobo Milagreiro» é especialmente feliz ao mostrar, de forma que os mais novos apreendem, que o mundo não é a preto e branco. O santo que foi assassino, a rapariga egoísta e fútil que antes fora uma vítima, honrados cidadãos que se revelam por momentos ingratos e cruéis... Mais do que ensinar simplesmente que o «bem» e o «mal» estão dentro de todos nós, a obra ensina que, se todos podemos «pecar» e cair na vileza, também nos podemos elevar por vezes à grandeza da santidade.
Um abraço.

Anónimo disse...

Exacto, Paulo.
E, sendo verdade o que tão bem eleges como "sumo" essencial da obra, é importante lembrar este papel da Narrativa no sentido de "isso" se tornar claro aos olhos do leitor. A Narrativa, portanto, como representação, refundação e reordenação ética e estética do nosso mundo.
Abraço!
JJC