Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sonho por Bernardo Soares


Eu tinha um sonho que ninguém via:
Era meu só; dizê-lo era perdê-lo
Porque a única razão, sabei!, de tê-lo
Era mais ninguém saber do que eu sabia.

Não se diz eu sei um sonho como quem
Diz eu sei um ninho que é só meu
(Mas era assim tesouro a que ninguém
Dava o valor do ouro que era o seu).

Agora, por ser velho, já perdi
O medo de o dizer, o revelar –
Trouxe o Tempo a luz e percebi
Que um sonho é um ninho por contar

E que morria o sonho desse medo
De eu dizer ao mundo o meu sonhar.
Ora, é pior a perda do segredo
Que o sonho ter morrido sem voar.

O sonho é mais, direi, que meu.
Por isso o solto, o grito, ai, no ar
Que este sonho-ninho só nasceu
Para eu próprio voar.

Ribeira de Pena, 09 de Novembro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em www.http://louletania.com.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho saudades de o ouvir declamar.

AGM

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Merci, chère amie. Tu es gentille!
Bj.
JJC