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Número de Ondas

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Alegre


O problema de Manuel Alegre é sobretudo ter apoios partidários declarados. O Bloco de Esquerda acantona-o numa lógica de "enfant terrible" libertário mas não presidenciável. O PS de Sócrates tinge-o de neoliberalismo envergonhado e pessoalmente indecente.
Eu creio que foi sobretudo Sócrates que, apoiando publicamente Alegre, o condenou à probabilíssima derrota nas presidenciais.
De modo que Cavaco, quase de certeza, (re)triunfará.
Mas num país onde morreram o livre pensamento e a revolta, convenhamos, que escolha mais indicada para o poder maior do que uma respeitável múmia política?

PS: Tenho ouvido e lido referências venenosas a um putativo passado de desertor que impenderia, como mácula eleitoralmente conveniente, sobre Alegre. É tão ridículo, injusto e estúpido falar nesses termos como, por exemplo, chamar anti-patriotas aos alemães que voluntariamente se recusaram a colaborar com Hitler na 2.ª Grande Guerra.

Ribeira de Pena, 25 de Novembro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

1 comentário:

Paulo Pinto disse...

Dar rosto a uma candidatura é também pôr-se a jeito de uma miríade de maldizentes e lançadores de impropérios. Tenho simpatia pelos políticos íntegros de vários quadrantes, que os há, pois arrostam com muita pancada que não merecem. Manuel Alegre, em concreto, é um português de grande verticalidade e rectidão, com convicções humanistas e profundamente democráticas. Já o provou, como também provou ser às vezes inconsistente. Estou convencido de que não tem as qualidades de um bom PR, apesar da estatura moral e política que tem (provavelmente a melhor de todos os candidatos). Preferia Sampaio, que, apesar de tão criticado, foi o presidente em que mais me revi. O apoio do PS, que Alegre tanto procurou, é um empecilho e não uma vantagem. Está sozinho, não mobiliza nem convence, e vai ter muito menos votos do que em 2006. Vai ficar na história como um poeta e sonhador, para o bem e para o mal. É pena. Pelo menos na consciência não lhe pesará nada, coisa notável numa época de cinismo.