sexta-feira, 5 de novembro de 2010
O segredo da escrita
Estrangeiro do presente, sigo pela estrada
No avesso da infância, cansado de viver.
No devir de tudo, conheci o nada
Sigo, estrangeiro, a estrada de morrer.
Aprendi bem a arte de desistir
À força de perder sonhos seguidos.
Creio pouco agora no porvir
Por vir de tantos sonhos falecidos.
Esperar já foi emprego dos mais nobres
Mas hoje é uma noite que se adensa -
Afiz-me, assim, à puta indiferença
Que é a aspirina dos mais pobres.
Sou um rei mago cego, desistente
Da estrela-luz, do deus menino.
Devim só este fim inconsequente:
Escrevo, ai, por não haver destino.
Ribeira de Pena, 5 de Novembro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem é uma criação de Van Gogh ("Sorrow", 1882).]
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2 comentários:
Estive hoje a reouvir(?) um velho álbum dos Supertramp, «Crisis? What crisis?». Para além da actualidade do título e, até certo ponto, da capa (um ricaço descansando indiferente à miséria que o cerca), o último tema tem uns versos que podemos recordar:
"Just as long as there's two of us
We'll carry on"
Paulo, estou contigo - e mais gente digna - dentro das aspas que recordas!(Nesta ronda, como diria o Zeca, "não há lugar p'ròs filhos da mãe".)
JJC
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