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Número de Ondas

domingo, 7 de novembro de 2010

Liberalismo(s)


Pessoa amiga deu-me a ler um livrinho precioso intitulado Alguém Diz Tu - Quatro Conversas com Óscar Lopes (Porto, Ed. Campo das Letras, 2000). Trata-se de um conjunto de entrevistas ao insigne intelectual (co-autor da monumental História da Literatura Portuguesa, da Porto Editora) conduzidas por Manuela Espírito Santo, José Viale Moutinho e Francisco Duarte Mangas.
O livrinho tem apenas 81 páginas (incluindo-se já, neste limite, um prefácio do galego Méndez Ferrín). Mas soube-me muito bem. É uma espécie de oxigénio isto de privarmos com um grande nome dos estudos literários, beneficiando tão intimamente da sua inteligência e lucidez.
Para além de revisitarmos, pelo seu discurso, grandes nomes da escrita, curiosas memórias, peripécias singulares e temas reactuais como o (des)Acordo Ortográfico, há ainda a possibilidade de gratamente nos reencontrarmos, à esquina de um parágrafo, com o livre pensamento livre.
É o caso da opinião que Óscar Lopes corajosamente avança, muito ao arrepio da moda dos opinion makers do nosso medíocre presente, sobre o chamado "liberalismo" ou "neoliberalismo" (pp. 17-18):
«De um modo geral, eu mantive sempre o culto das liberdades individuais, portanto é sobretudo o liberalismo económico que me choca. Há um autor português que exerceu muita influência em mim, na minha geração. Trata-se António Sérgio, que fazia essa distinção muito clara entre o liberalismo económico, que é a concorrência, a caça ao lucro, e o liberalismo político, que é a defesa das liberdades essenciais. Estas duas coisas acho que são coisas diferentes. É muito importante a consolidação e até o desenvolvimento do liberalismo político, mas não acredito no liberalismo económico - por isso sou socialista.»
Assim não pensam, de certeza, os Sócrates, Passos Coelhos e quejandos espíritos da nossa praça - tão veneradores que são dos míticos "Mercados".
Também eu vou, aqui, pelo António Sérgio, embora não me atreva a achar-me, como Óscar Lopes, socialista. Lamento, mas dou-me irremediavelmente mal com rótulos.

Ribeira de Pena, 07 de Novembro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho

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