Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A vulgaridade interrompida


Em Pamplona, Espanha, comemorou-se o Dia Europeu da Ópera com um maravilhoso concerto não anunciado, a cargo de grandes vozes interpretando sucessos musicais, no improbabilíssimo contexto de um bar espanhol (muito semelhante ao Café Santa Cruz da natal Coimbrinha).
Naquele pic-nic de burguesas e burgueses, portanto, houve uma coisa simplesmente bela: a Música irrompeu pela tarde e iluminou bebedores anónimos de vinho ou café, comedores monótonos de tostas mistas, fumadores fugazes de tabaco barato, gente cumprindo a tarde funcionária de uma Primavera qualquer. Visto isso daqui, eu estava lá.
A Beleza interrompeu a rasteira existência de circunstantes habituados a nada.
Isto é, a Beleza interrompeu o Nada. Isto é, Tudo substituiu, por minutos, o Nada.
No final, sobre os aplausos comovidos (decerto gratos) dos beneficiários, alguns dos cantores levantaram cartazes celebrando a Ópera. Um deles dizia singelamente: "Vês como gostas?"
Eu tenho no meu coração, também, um cartaz assim, sempre pronto para mostrar aos meus alunos, aos meus amigos, à minha Mãe. Às vezes, no exacto instante do fulgor de um poema, de uma história, de uma música, de um filme, de uma visão cheia de céu, saco do meu cartaz em forma de palavras ditas, ou então de sorrisos, ou então de silêncios, e digo-lhes: É ou não é bonito?
Atentai, distraídos: a vida só vale a pena porque de vez em quando é visitada pela Beleza. Acontece aliás que, em tais momentos, Ela - a vida - se torna maior. E que, em vez de apenas estarmos, somos.

Ribeira de Pena, 3 de Novembro de 2010 (após ler E-mail precioso do Daniel remetendo para o Youtube).
Joaquim Jorge Carvalho

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