Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Wild Life


Sempre gostei de documentários televisivos sobre a vida selvagem. Graças sobretudo à BBC, sei hoje muito mais do que, em teoria, deveria saber sobre os hábitos reprodutivos dos pinguins, as diferentes formas de veneno que há nas serpentes, ou as dificuldades de sobrevivência do urso polar.
Aprendemos, com esses vívidos relatos, que na selva vinga a lei do mais forte. Não raramente, esqueço-me de accionar o botão da piedade e dou por mim entusiasmado com a agilidade e eficácia da caçada dos leões, justamente premiados com a carne fresca de gazelas jovens. Nunca há ali questões de moral ou ética. É assim porque tem de ser assim.
Já todos vimos como os animais, em sua bestialidade sobrevivente, exploram sempre que podem a fraqueza dos outros. Um ser ferido, ali, tem normalmente a sua (má) sorte traçada – e é ele, entre todas as vítimas possíveis, a mais provável morte a haver. É assim. É a selva.
No mundo dos homens, não é assim.
Não?
Sabe-se que “os Mercados”, assim que lhes cheirou a sangue (i.e., a falência económico-financeira), apertaram com a Grécia e a Irlanda e, agora, apertam com Portugal.
Num mundo diferente da selva, os países em maiores dificuldades teriam maior tolerância dos mais fortes (em matéria de juros, por exemplo, no presente contexto).
Num mundo onde vigore a lei da selva, quanto maiores forem as dificuldades dos países, mais exigente e cruel é o tratamento dos banqueiros nacionais e internacionais.
Sucede que os países são constituídos, antes de mais, por pessoas. São elas que sofrem. Os pançudos nacionais e internacionais não querem saber disso porque não. Porque é assim. Porque é a selva.
Gil Vicente falou, com propriedade, dos onzeneiros infernais. Zeca Afonso falava dos vampiros que não deixam nada.
Senhores, escutai: o capitalismo (este capitalismo) não deveria ser o fim da História.

Ribeira de Pena, 08 de Novembro de 2010.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em www.fotosearch.com.]

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Exactamente. Os «mercados» globalizados são, fundamentalmente, predadores. Mas são-no não por necessidade e na justa temperança do fazer q.b. para o próprio sustento, mas sim na busca insaciável do lucro máximo. A comparação com os carnívoros da selva só peca por ser injusta para com os bichos.
Um abraço (não de urso)!

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Paulo,

as tuas opiniões dão brilho à discussão. Bem-hajas.

Abraço.

JJC