O caso do soneto incompleto
Esvoaçam folhas pelo Café e crianças
Passando riem-se enquanto o já velho
Poeta se aflige e desesperadamente procura
Os versos.
O empregado traz-lhe dois tercetos
Mas não a folha com as duas quadras
Em falta, de modo que o soneto se torna
Viúvo de si, para sempre incompleto.
O poeta recusa-se a amaldiçoar o vento
Porque o ama, como tudo quanto conhece
Da natureza e da vida.
O empregado vê-o ao fundo, escrevendo
Nervosamente-desperadamente,
Tenazmente:
Procura duas quadras desaparecidas, não
Já pelo chão do Café ou da rua, mas
No interior de si próprio.
Cabeceiras de Basto, 23 de Março de 2018.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em https://www.antoniozai.wordpress.com.]
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