A formiga levantou-se cedo. Pegou na mala, na carteira dos documentos e no molho de chaves. Despediu-se da outra formiga adulta (as crias dormiam) e saiu do buraco. Percorreu em silêncio a distância entre ali e o lugar onde jazia um pão escuro e duro. Pacientemente-diligentemente-esforçadamente, reuniu algumas razoáveis migalhas e regressou ao buraco originário. Beijou pela segunda vez, nesse dia, a sua metade conjugal e as formigas infantes. A família jantou com apetite e alegria e rapidamente se esgotaram as migalhas. A formiga paterna deitou-se e ficou a olhar para o teto abstrato do buraco-lar. Foi quando lhe assomou à cabeceira uma das filhas:
- Pai, agora já não há mais pão. E amanhã?
A formiga patriarcal murmurou, cheia de sono e de fadiga:
- Amanhã é outro dia.
Viagem entre Vila Real e Coimbra, 09 de Junho de 2018.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em https://www.pinterest.com.]
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