quinta-feira, 21 de junho de 2012
Alienação amável
Hoje é dia de jogo entre a República Checa e Portugal. Quem triunfar passa às meias-finais do Europeu de futebol.
No intervalo de reuniões, de actas e de relatórios, há no meu quotidiano uma espécie de febre que vive, por antecipação, o momento histórico (histórico porque faz parte da minha História pessoal e doméstica). A doença é, aliás, geral. Fazemos prognósticos, lembramos estatísticas, desconfiamos de vagos agoiros, combinamos um jantar, esperamos pelas 19h45m.
É verdade, claro, que a nossa vida depende sobretudo de secretas conversações entre a Alemanha e a França, ou dos humores dos mercados, ou dos caprichos do (des)governo nacional, ou de vicissitudes climatéricas. O futebol distrai-nos, sem dúvida, daquilo que tende a ser o "essencial" da nossa existência.
Pois eu declaro solenemente: abençoada distracção! Abençoada alienação!
Mil vezes acho mais interessante deter-me num remate genial do Cristiano Ronaldo do que ouvir o pastoso cinismo do ministro das Finanças. Mil vezes entendo mais importante a raça de Coentrão do que comover-me com essa inexistência que finge ser ministro da Economia. Mil vezes é mais admirável a força de Pepe do que a enunciação de manhosas medidas sobre a Escola Pública. Mil vezes gosto mais da magia de Nani do que das mentiras de governos, partidos ou avulsos comentadores sem vergonha na cara.
Amo o futebol. O amor, como decerto sabeis também, é uma fábrica de alienações.
Sou nisto da selecção um assumido alienado, portanto. E estarei hoje com os meus amigos a sofrer (pois, pois, porque há masoquismo nisto dos amores verdadeiros) com Portugal.
Não bem por Portugal; por mim.
Ribeira de Pena, 21 de Junho de 2012.
Joaquim Jorge Carvalho
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1 comentário:
A vida não pode ser só as coisas «sérias». Quem só dá importãncia às coisas «sérias» amputa (raio de palavra!) uma dimensão fundamental da sua existência.
Força Portugal!
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