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sábado, 10 de setembro de 2011

A(c)ta triste sobre o (des)Acordo


E mais se lamenta que entre Portugal e o Brasil não haja, ultimamente, uma verdadeira reciprocidade de contributos, situação visível, por exemplo, no fa(c)to de, por um lado, os portugueses haverem recebido Liedson e de o haverem devolvido ainda melhor do que o receberam, cheio de talento e saúde (vide os dois golos que, há dias, marcou ao Flamengo), e de, por outro lado, os brasileiros haverem recebido a Língua Portuguesa e de, mais tarde, no-la terem devolvido sob a lamentável forma de Acordo Ortográfico. De acordo com os cidadãos reunidos no Auditório do meu coração, este comportamento não é o mais digno entre verdadeiros irmãos.
E nada mais havendo, por ora, a acrescentar, etc., etc.

PS: Esta rábula é isso mesmo - uma rábula. Sei bem que os principais responsáveis por esta triste evolução são alguns académicos e políticos portugueses, mais preocupados com as respe(c)tivas carreiras do que com a Língua propriamente dita.

Ribeira de Pena, 10 de Setembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho

4 comentários:

Paulo Pinto disse...

Esta não é a primeira reforma da ortografia, e sempre que se muda algo surge a polémica. A mim não me chocam as mudanças ditadas pela evolução da língua ou da forma de a conce(p)tualizar (nova gramática, por ex.). Mas este acordo ortográfico, de facto, não convence mesmo nada. Perde-se de vista a etimologia em muitas das palavras alteradas, distancia-se o Português de outras línguas europeias, abre-se o caminho para confusões e alterações fonéticas indesejáveis, etc. Eu acho mesmo que a escrita fica mais feia, ponto final. E para quê? Para unificar as variantes da língua? Continua a haver casos de grafia diferenciada, para além de diferenças marcadíssimas na sintaxe e no vocabulário, para não falar da oralidade. Se a ideia é tornar a língua mais acessível aos estrangeiros, não vejo que o acordo vá fazer diferença. O que vai ficar é caro implementar o acordo ao nível das editoras, etc.
Talvez devêssemos ter falado mais destas coisas antes, mas não faltaram escritores, especialistas e líderes de opinião a alertar. Gostemos ou não, lá temos que nos adaptar (e ensinar aos mais novos)...
É só mais um pingo de vinagre da garrafa inteira que tem vazado para o nosso prato.
Um abraço!

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Chico Buarque revisitado: Pai, afasta de mim esse "vinagre"!

Abraço!

Anónimo disse...

Na palavra lagryma, (…) a forma da y é lacrymal; estabelece (…) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério… Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal.

(Teixeira de Pascoaes, às vésperas da Reforma Ortográfica de 1911)


Hoje alguém se lembra disso? Pergunto eu?
Vais resistir quanto tempo?

Anabela

Anónimo disse...

A questão "Vais resistir quanto tempo?" é interessante. Talvez nem isso eu, hoje, verdadeiramente faça. Falta-me saúde física e mental para resistir. Sou um fantasma, uma coisa fora de moda como o Português dos livros comprados na Livraria Arnado no século XX.

Beijinho.

JJC