Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Casais Monteiro


Adolfo Casais Monteiro é um nome muito interessante do modernismo português. Para além da sua própria qualidade como escritor e ensaísta, foi igualmente importante para o estudo e a consagração de, por exemplo, Fernando Pessoa.
Num poema intitulado “Aurora”, em que Casais Monteiro aduz especiosa explicação do ofício poético, há um verso que se tornou uma espécie de mármore da nossa linguagem colectiva: “Voo sem pássaro dentro”. O verso serviu, aliás, de título para um volume de poesia do autor, publicado em 1954. (Durante algum tempo, por razões que não consigo aduzir, estive convencido de que esse verso era de Cesariny – e já ousei até reinventá-lo, nesse pressuposto errado, em Desapontamentos dos Dias, mas aí colocando o “pássaro” bem no interior do seu exercício voador.]
Pus-me à procura deste poema “Aurora”, no tão utilitário Google, por tanto me apetecer trazê-lo ao meu (nosso) “Muito Mar”. Ei-lo:

Aurora

a poesia não é voz - é uma inflexão.
dizer, diz tudo a prosa. no verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. no verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
e aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:

voo sem pássaro dentro.


Viva Casais Monteiro.

Coimbra, 31 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida, com a devida vénia, em http://produto.mercadolivre.com.]


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