Bússola do Muito Mar

Endereço para achamento

jjorgecarvalho@hotmail.com

Número de Ondas

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Liberdade verdadeira


Costumo, no início de cada ano lectivo, exigir aos meus alunos que, nas nossas aulas, se sintam todos, sempre, à vontade. Depois, para moderar excessos indesejáveis, acrescento (normalmente sorrindo): “Desde que o professor se sinta também à vontade, claro. Ora, num ambiente sem respeito, compreendem, o professor não se sente à vontade.”
Revi-me, agora, na minha condição de professor e pessoa num belo poema de Cesariny (“Autoridade e Liberdade são uma e mesma coisa”, in As Mãos na Água e a Cabeça no Mar), que vos ofereço:

Autoridade é do que é autor.
Só a autoridade confere autoridade.
A autoridade não é uma quantidade.
Todo o homem é teatro de uma inexpugnável autoridade.
Aquele que julga ser possível autorizar ou desautorizar a autoridade de outrem não sabe no que se mete.
Liberdade.
A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais reverbero no mesmo fulgor.
Trocar a liberdade em liberdades é a moda corrente do libertino.
Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada, com cães. Mas é impossível tirar-se-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro – nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.


Coimbra, 02 de Setembro de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem, de Salgueiro Maia (porque tem tudo a ver), foi colhida, com a devida vénia, em http://www.pt-br.facebook.com.]


Sem comentários: