Bússola do Muito Mar

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Número de Ondas

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O lugar das andorinhas


“Boa noite. Eu vou com as aves.”
(Eugénio de Andrade)


Todos os anos a cena se repete. Cumprindo a primavera que lhes corre no sangue, um casal de andorinhas dirige-se ao segundo andar da Avenida da Noruega, esse território onde resido há razoável tempo. No espaço sobranceiro à janela do quarto da minha filha, aquele casal faz, refaz o ninho que os seus próprios filhos a haver, depois, habitarão.
Imagino-os a espreitar, discretamente, o quarto vazio da minha filha, que deveio mulher ao fim de algumas primaveras. Murmurarão, entre si, naquela língua chilreada de voadores nómadas:
- A miúda não está cá. Terá sucedido alguma coisa?
Um elemento do casal (talvez a esposa) adiantará a verdade, com a resignação e a serenidade triste dos seres por enquanto vivos:
- Cresceu. Voou daqui para fora.
Outro elemento do casal (talvez o esposo) dirá:
- Coitados dos pais.
As andorinhas sabem do que falam.

Ribeira de Pena, 09 de Maio de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
[A imagem foi colhida – com a devida vénia – em http://www.panoramio.com.]

2 comentários:

Daniel Abrunheiro disse...

Vi-as. Agora, leio-as.

jorgil disse...

Gostei. A fuga do ninho é uma fatalidade, muito difícil de digerir pelos pais, penso eu, que nunca o fui.Mas imagino!